25 de abril de 2009
O grafite e a paisagem carioca
– O dono de uma oficina no Rio Comprido me chamou para pintar o portão. Ele entrou com o material e eu com a criatividade – conta Gustavo Figueiredo, morador do Leblon.
O paulista Tony de Marco é artista plástico e trabalha com grafite há cinco anos. Para ele, o contato com a rua é primordial.
– A rua foi uma maneira de eu conseguir bastante prática e experiência – comenta Tony.
Marginal, não
Engana-se quem considera o grafite uma arte marginal inventada nos guetos dos Estados Unidos. Ele surgiu muito antes, na terra do futurismo de Umberto Boccioni, a Itália, onde era usado pelos antigos romanos para divulgar suas leis e acontecimentos públicos. Assim que explodiu nos EUA, na década de 60, o grafite ganhou novos horizontes. Capturada pelo movimento negro em Nova Iorque, a arte urbana passou a dividir espaço com o breakdance e o rap, parte de uma ideologia, o hip-hop.
– No hip-hop, o grafite tomou novos rumos, foi além da cultura de rua, tornou-se uma linguagem que revolucionou o movimento artístico. Hoje, já está dentro das faculdades de belas artes – explica Alexandre Ferreira, mais conhecido como Afa, que dá aulas na Cufa (Central Única de Favelas). – As pessoas com quem trabalho não tiveram acesso à arte, que sempre foi privatizada. E se o povo não vai até a arte, a arte vai até ele.
– Uso cores vibrantes e uma imagem bastante figurativa. Costumo desenhar acerca de questões atuais da mídia – revela o professor de grafitagem.
Mas, afinal, quem arca com as despesas dos desenhos?
– Muitas vezes, os próprios artistas têm de bancar o material. Em troca, recebemos o olhar de nossos espectadores, que são aqueles que estão passando pela rua enquanto nossa arte estiver lá – comenta Afa.
Dos grafiteiros, no âmbito internacional, o mais famoso é Jean-Michel Basquiat, que, na década de 70, chamou a atenção da mídia nova-iorquina, principalmente pelas mensagens lúdicas que deixava nas paredes dos prédios abandonados na ilha de Manhattan. E se ídolos costumam fazer história, no caso da grafiteira Taíssa Camarotti, a Thati, a fã número um passou a ser a noiva.
Thati faz parte do grupo Facing the Gigant, formado há oito anos no Rio de Janeiro por cinco grafiteiros – quatro homens. E não é só no grupo que Thati é minoria feminina.
– As mulheres ainda são poucas no grafite – reconhece.
Segundo os grafiteiros, os espaços onde são feitas as grafitagens costumam estar abandonados. A subprefeitura da Zona Sul, no entanto, ressalta que, se tratando de lugares públicos, deve ser pedida uma autorização à prefeitura; em privados, ao proprietário.
11 de abril de 2009
No xilindró
De todas as minhas loucuras, por uma tenho um especial apreço. Uma ilegal que mexe com o lado mais sombrio e tortuoso do homem. A vontade de ser preso. O sentimento de aprisionado, de estar errado, e ter que ser julgado. Ficar na cadeia. Agarrado naquela grade suja em que apóiam as mãos assassinas e ladras.
Por um dia, apenas um dia, queria ser réu. Dividir cama com bandidos, canalhas filhos da puta que são os tumores malignos de toda sociedade. Sentir a violência viva, pulsando forte na respiração ofegante do malandro dormindo do meu lado.
Queria ser preso, num presídio qualquer da vida. Queria sangrar a fúria da impunidade que vive correndo atrás de seus salafrários. Queria vestir aquela roupinha, cor de cinza malvado e ter que entregar meus pertences contra a minha vontade ao Estado.
Queria sentir a dor da prisão. Sentir-me acoado atrás das grades, será que dá medo? Teria fome. Senão de comida, de vingança. Atrevida, com sede. Sentir o sabor amargo do café velho que servem naquele lugar, o café frio, o café preto desbotado. Tomar banho de sol e ver o astro rei se pôr quadrado.
Dos meus devaneios masoquistas esse é o mais doentio e insano. Queria estar lá por um dia., não mais que isso. Ser foragido, pego, preso, inerte, ferido, mansinho, mansinho, querendo fugir de mãos dadas com a loucura, aflita, insólita, perdida e sem rumo, minha única cúmplice, advogada do diabo. Meu maior álibe. Queria sentir como é abandonar um nome e ser chamado por um número.
E quando fosse ir no banheiro, de porta aberta, riscar com pedra minha irritação na parede rachada, suja e com cheiro de sangue. Do sangue forte derramado