2 de fevereiro de 2009

De olho na nave NO LIMITE?


Há uns oito anos atrás eu conhecia um programa novo em âmbito nacional que iria instigar a cabeça de telespectadores e revolucionar a grade de programação da maior emissora de TV do Brasil, a gigante Rede Globo de Televisão. Um programa que iria lançar moda, criar debates, formar opiniões, movimentar fãs e seguidores.
O programa dos milhões de reais, da casa mais moderna e “clean” do Brasil conquistou o público e trouxe a tona perfis de brasileiros de todos os tipos: do homenzarrão que chora por uma boneca de plástico e ferro a um cow-boy caipirão, dos conquistadores às domésticas, personagens que punham em cheque a questão da convivência e da aceitação das diferenças sob o mesmo teto, e acima de tudo a relação interpessoal sob as lentes de dezenas de câmeras que registravam cada segundo, cada passo, o que os participantes estavam fazendo. A intimidade estava perdida e a privacidade totalmente banida da linda casa construída em Vargem Grande no Rio de Janeiro.
Sob o comando do ilustríssimo Pedro Bial e seu texto inteligente, perspicaz e intocável, o programa flui de maneira tranqüila, e o mix de provocações entre o apresentador e os integrantes da casa, deixa a disputa mais quente, afinal a voz do Bial é a voz do público.
Um programa de massa, das massas. Pobres, ricos, gays, negros, brancos, crianças, adolescentes, idosos, pais, mães, alunos e professores... Todos, expectadores ascíduos ou não, sempre estão com o BBB no top ten dos assuntos mais debatidos do dia-a-dia. Quem não queria participar daquelas grandes festas de sábado na casa mais espiada do país?
Entretanto como dizia cazuza: “o tempo não pára” e acho que as teorias dele firmam o ideal e tem sido a base sólida do BBB 9, a música de Raul Seixas, Metamorfose Ambulante, parece traçar o retrato do novo programa que invade as televisões depois da novela das oito, no horário nobre da Globo.
Dentre todas as mudanças, uma, sinceramente estimulou um ar de revolta e injustiça, O QUARTO BRANCO. Qual o intuito daquele quarto? Forçar a loucura? O BBB passou de jogo de tabuleiro, onde os participantes podem mover seus próprios peões, a rixa de galo, onde os próprios animais são obrigados a brigar pela aposta e pela ganância do bicho homem?
O BBB tem sua riqueza, ignorantes aqueles que acham que o Big Brother Brasil é programinha de gente burra, pobre de cabeça e espírito, gente sem cultura, sem ocupação. O BBB nos garante horas ilimitadas de análise ao incoerente pensamento humano, seja dos participantes ou dos que estão atrás das câmeras, mandando e desmandando no andamento do cotidiano da casa.
O BBB se descaracterizou. Não vejo mais imparcialidade. Não vejo nada além do espírito capitalista do homem, que se submete a tudo por um milhão de reais, pouco, tenho a certeza, diante dos cifrões agremiados pelos merchans e pelos comerciais entre um bloco e outro.
O anjo virou monstro, o voto pode ser aberto, aliás, com o quarto branco percebi que o público não vota mais. O que havia de mais brilhante no programa, o poder do povo, o poder de quem prove o programa, o poder da democracia e da interatividade fora deixado de lado. A voz do povo já não é mais a voz de Deus. Não existe mais um cronograma, as mentes que estão ali dentro começam a ser manipuladas, saturadas, as pessoas dali não são mais autenticas, não são mais elas mesmas. Conseguir ficar preso num quarto todo branco, exposto apenas ao tédio e a irritação visual da estagnação vai contra qualquer sanidade mental, vai contra qualquer possibilidade de justiça, afinal não foram todos que foram submetidos àquilo.
Entrar no BBB é certeza do imprevisível. Mas acho que o imprevisível devia ser apenas pros participantes e não para o público, que passivo, assiste às edições curtas feitas todos os dias. Basta-nos apenas acreditar bestializados no que se veicula e assistir perplexos, na espera de novas loucuras da nave BBB, nave sem rumo, sem destino, insólita e perdida no espaço.
Lado A, lado B, casa de vidro, o ser humano tem sido tratado como elefante de circo, manipulado, treinado a mentir, a simular, a fingir, a construir uma personalidade e um comportamento em troca de uma maça de um milhão de reais. Até onde vale a pena dar ibope à mentira? A essa injustiça psiquiátrica. E diferente do Banco Imobiliário ou o Jogo da vida, no BBB o tabuleiro não é de papelão e o dinheiro não é de mentirinha, não se podem ler as regras na caixa do jogo e tão quanto nas ilegais rixas de galo, as regras são feitas na hora e quem não agüentar vai embora, o galo que morrer sai da disputa, não de pode criar estratégias. A minha dúvida é? O programa No Limite voltou ao ar de cara nova?
Resta-nos apenas fazer nossas apostas. Eu, dessa vez, não vou apostar em nenhum galo e sim numa galinha, afinal de contas, pelo menos uma das participantes íntegras do programa, não se espantem, vão ser assediadas e perder seus princípios trocando sua nudez e seu pudor por uns 200 mil reais da Playboy.

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