12 de fevereiro de 2009

É SOM SÓ DE PRETO? SÓ DE FAVELADO?


O funk melody já exaltava no início da década de 90,que “o funk não é modismo, é uma necessidade..." Sou carioca, funkeiro, universitário, branco. Freqüentador ascíduo dos bailes da Furacão 2000 e de algumas favelas. Não sou bandido, homicida, ladrão, traficante ou usuário de drogas. Sou carioca. O funk é meu único vício.
Um binômio retrata bem o funk: o amor e o ódio. Ou ele é exaltado e curtido das vielas do Chapéu-Mangueira aos ap´s de luxo de Copacabana ou ele é criticado e renegado pela mídia e pelos "cú doces" de plantão. Bem como o samba, assim que surgiu no Rio, o funk é tido como ritmo de malandro, de bandido. E hoje no que o samba se transformou: em patrimônio cultural, em grife, em representação da identidade nacional dentro e fora do país. Brasil sem samba é México sem novelas dramáticas de Marias do Bairro, Marias Mercedes, Maria Desconsoladas e Marcelos Augustos, é Austrália sem os pulinhos do Canguru, Dineylandia sem o casal Mickey e Minnie.
Em contrapartida aqui dentro de nosso país, não agüento, mas é realidade, uns e outros cismam em botar pra baixo nossa cultura. Funk é cultura de morro, de favelado, de pobre, de quem não sabe sequer o português, de preto, de ignorante, sim quem diz isso tem total razão. Mas desde quando nosso país é formado por intelectuais, ricos, que usufrui de uma justa distribuição de renda? Por outro lado, não entendo por que o movimento funk sofre tamanha deserção. Afinal de contas o forró e o axé baiano, por exemplo, fazem tantas menções sexuais quanto o funk carioca, talvez de forma menos explícita e mais ambígua. Mas segura o tchan pra mim é igual a "segura a piroca", hit do momento no mundo funkstyle, isso é! E cá entre nós: o que é "caralho'? Você nunca ouviu? Quem não sabe o que é? Quem disse que é palavrão? A propósito, quando você xinga, você grita "pênis!!" ou "órgão reprodutor masculino!" ? Perdão àqueles que usam essa forma educada de expressão, mas estou certo que não corro o risco de acometer a nem 0,0001% da sociedade brasileira.
O Funk carioca é um produto nacional. Diferente de movimentos emocore, hardcore e cia. que são produtos da indústria cultural que alcançam espaço caca dia mais amplos em nosso país. Por analogia, se o funk estiga o sexo, o rock estiga a briga, um lado sadomasoquista humano que a mim não agrada; se o funk forma os famosos trenzinhos da sacanagem, o rock convida às rodinhas punk. O surpreendente é que grande parte dos que fazem comunidades em sites de relacionamento e criam posts em blogs para criticar o funk, nunca foram a um baile funk original. Aliás será que eles já vieram ao Rio? Estou convicto que apenas falam o que a mídia expõe. E nós sabemos que a mídia sustenta apenas o funk comercial que lhe é conveniente. É evidente que o funksinho que toca na novela das oito é um funk “pra vender” de quinta, que toca apenas pra impulsionar o comércio do cd da novela. O funk de verdade, os funkeiros de verdade, não entram no mainstream. Os funkeiros de verdade não passam de amadores que estigam o sexo e o tráfico de drogas. Os funkeiros de verdade não têm sequer gravadora, não podem mostrar seu talento, sabe porque? Porque narram na íntegra o que vivem em suas comunidades, narram a verdade, o real cotidiano de suas favelas, de pretos excluídos e brancas alucinógenas, de trabalhadores e cocaína, de fuzis empinados e crianças traficantes. Os funkeiros de verdade, faz tempo, foram tomados como marginais desde os arrastões de 1992 nas praias da zona sul, atribuídos aos aventureiros do mundo embrião do funk pela imprensa legitimadora.
Eu sou funkeiro, assumido, não fumo maconha, eu respeito a cultura brasileira e valorizo-na. Não pago 600,00 pra ver Madonna no Maracanã apesar de adorá-la, conhecer sua história e talento internacional no mundo pop. Eu não uso moda importada, tipo cabelos coloridos e/ou roupas metálicas: isso meus caros não é Brasil, não é América Latina, é fruto das mentes consumistas e de vez em quando burras dos nossos compatriotas de continente, os filhos dos EUA, a maior economia do mundo. E é por essa capacidade de vender o espírito do necessário e do "cultural" que se baseiam na Doutrina Trumam, américa aos americanos, aos Mc Donald´s, ao tênnis Nike, ao Oasis e Jonas Brother´s da vida. Eu no entanto, abro mão dessa cultura importada e invisto no estudo do movimento funk. Apesar de por vezes ter sido criticado, indagado e ironizado, transformei o Funk em objeto de estudo científico dentro da comunicação social, principalmente por dois motivos: pra eu poder argumentar plausivelmente em defesa do movimento e ir contra a mídia e grande parte da população para provar que o Funk Carioca, é sim uma manifestação da cultura popular brasileira, queira você ou não.

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