27 de junho de 2008

Pique estilingue ou Guerra Civil?

Dessa vez tudo ficou mais claro por mais evidente que essa situação possa ter chegado. Eu vivo numa cidade em guerra civil.
Acordei cedo depois de uma noite de sono pesado, interrompido apenas por algumas rajadas de balas. Arrumei-me e saí, alguns compromissos corriqueiros do dia-a-dia me aguardavam irrequietos. Tudo tranqüilo. O dia estava perfeito, temperatura agradável.
De repente, em uma das esquinas do meu bairro, cerca de 30 carros mais ou menos corriam lépidos e faceiros desfilando “segurança”. De quais carros estou falando? Dos carros azuizinhos e brancos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sim aquela honesta e eficiente. E o que todo aquele cortejo estatal representava? Isso era o que eu estava me perguntando naquela hora.
Atrás dos carros, um grande blindado. Sabe aqueles que recolhem o dinheiro do Banco Real, do Mc Donald´s.. então só que revestido com uma carapaça cinza, uma caveira do lado... não era qualquer um. Era um blindado imponente, rude e.. e... vulnerável, como qualquer outro veículo ou automotor que ouse combater o tráfico, exceto os tanques do exército. Com uma diferença: um auto-falante na parte superior, usado pra fazer ecoar pânico, pra combater o crime sabe. (Que solução inteligente!)
Em silêncio, seguiam em direção a uma das 23939840403349300 favelas do Rio de Janeiro. Um comboio armado e aparentemente hiper qualificado. A imprensa também os seguia. Arrepios... e a população assistia perplexa àquele desfile que mais cedo ou mais tarde iria acarretar em uns três minutos do RJTV anunciando algumas meias dúzias de mortes (sorte a nossa se forem do exército inimigo).
Respondam-me meus nobres: Todos aqueles homens, alguns quarentões, que mexem com a cabeça e fazem parte de sonhos eróticos de algumas mulheres mais danadinhas, estariam se organizando por um grande pique-estilingue com fuzis empinados pra fora dos carros, ou estariam indo à guerra?
Um exército de fardados e armados até os dentes cortavam as ruas do meu bairro e partiam em “defesa” da população. Motoristas de Kombi, “bem apessoados” aos gritos, anunciavam: última remessa de coletivos!!! Afinal não iam deixar suas vans clandestinas a mercê do tráfico, que incendeia qualquer objeto de quatro rodas que cruzar o conflito, para vingar a morte de um traficante.
Isso tudo era em plena manhã de uma quinta-feira qualquer, e cá entre nós, por mais que tiros, balas perdidas, e violência já façam parte de nossas rotinas, todo esse movimento ainda pegava de surpresa, frágeis senhoras que voltavam da feira, crianças arrumadas pra ir ao colégio, e EU, sim, eu também fiquei bem surpreso. Daí me questionei: estou numa guerra civil? Em que país estou? Vieram-me a tona grandes nomes da violência mundial: Kabul, Bagdá, Faixa de Gaza...não não não estava na segunda cidade mais populosa do Brasil, àquele país emergente que sempre cito em meus textos, na maravilhosa Rio de Janeiro, a cidade das bundas despeladas no carnaval e dos shows pirotécnicos de reveillon.
Mais tarde, à noite, como já esperava, vi no RJTV, minha coleguinha Leilane Neubarth, mencionar a incursão em Senador Câmara, que me custou uma passagem “filantrópica”, digamos assim, à SuperVia, pois a circulação de trens havia sido interrompida no dia anterior por “questões de segurança pública” - anunciava uma das funcionárias da ferrovia por microfone.
Foi-se o tempo em que podia ficar tranqüilo na varanda da casa da minha avó brincando com meus amigos no portão e jogando conversa fora com meus primos. É, aquela manhã de quinta-feira me trouxe um ar nostálgico, dos tempos que eu podia ser criança, ser cidadão com segurança. Em que podia ficar até tarde brincando de pique pega na rua sem ter que me recolher com medo da violência, dos tempos em que polícia e ladrão era apenas uma brincadeira de rua. Minha avó já não se assusta mais com os tiros, e pasmem, ainda fica vendo os traçantes no céu estrelado, me revelou ela outro dia – podiam ser coloridos e em outros tons sem ser amarelo-fogo – brinquei com minha mãe. De madrugada por vezes acho que estou sonhando – será que sou militar e essa uma salva de tiros em meu enterro? Hoje é dia de São Jorge pra ter alvorada? Antes fosse apenas um pesadelo, o pior é perceber que os sons que ouço de noite são tiros sim, estão bem próximos, são de verdade, a única mentira é que o pique estilingue não é nenhum pique e sim uma guerra civil camuflada e que as balas perdidas não são tão perdidas assim, porque sempre acertam um alvo: o errado.

22 de junho de 2008

ÔO TREM BAUM!



São 17 horas. Estou no Castelo, no centro do Rio de Janeiro, ali pertinho do Consulado dos EUA, da ABL (Academia Brasileira de Letras), do IBMEC, fonte de beleza desenhada em rostos perfeitos da classe média alta que estuda ali. Da janela de um prédio na Franklin Roosvelt, me despeço dos meus chefes, do Sr. Gazanneo e parto pruma jornada longa e cansativa, cortando o Rio de Janeiro até chegar a meu lar doce lar.
Desço os nove andares na certeza de chegar antes das 18h na estação de metrô da Cinelândia, essa hora entrar num metrô é algo tão insuportável que chega a ser lúdico e indigesto ao mesmo tempo. Passos largos, apressados, meus pés às vezes doem, e meu Deus.. como os sinais da Av Presidente Antonio Carlos demoram pra abrir, ver o sinal verde está para o tiro dado pela pistola em dias de corridas no Jóquei Clube, ambos os sinais remetem a mesma idéia, corrida. Não estou sozinho nessa jornada, comigo outras dezenas de engravatados e senhoras bem distintas de sainhas, digamos que bem saidinhas e terninhos encantadores seguem o mesmo trajeto, e parte deles, acreditem, farão a mesma aventura que eu. Um deleite único de quem precise de transporte público para se deslocar pelas ruas movimentadas do centro do Rio.
No caminho, deixo por despercebido senhoras velhinhas com fome que me abordam pedindo dinheiro, vira latas sem rumo que perambulam pelas calçadas, mendigos com fome e carrões importados e alguns empresários que circulam como transeuntes gastando aquele inglês fluente que me embabaca, será que o meu é assim também? Famintos e ricos me rodeando, camelôs, aqueles japinhas vendendo óculos falsificados, pretos, brancos, amarelos.. gente de todo tipo e toda cor.
Passo pela Praça Paris, ali pertinho da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal e chego finalmente a uma das entradas do metrô. 3,60 R$ é o valor da passagem para essa viagem incrível. Pego uma filinha básica, passo na catraca, agora eletrônica (mas ainda falha), desço as escadarias e fico na ânsia a espero do trem. Meu Deus.. parece que todo o Centro do Rio bateu o cartão na mesma hora e resolveu se encontrar no mesmo lugar, o que me acalma é saber que lá em cima nas ruas, o trânsito é pior. Quatro pessoas por metro quadrado, é quente, o ar condicionado nem sempre dá vazão, e ali na estação mesmo, vejo o quão diferente é a vida dos moradores da zona sul, enquanto entram 10 num vagão da linha 1 indo, sentido Glória, entram 100 no sentido Largo da Carioca, enfim.. aquele aperto continua, e algumas vezes pasmem quase que entro numa porta e saio pela outra do lado contrário, QUE EDUCAÇÃO!! QUE PRESSA!! Pra que isso? Nossa! No fundo entendo, quero chegar em casa tanto quanto eles e sinto na pele o quanto todo aquele processo é incomodo e incompreensível. Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, uffa! Central do Brasil.. quatro estações, cerca de sei lá, 10 minutos.. que segundos longos!! Só pode!
Abrem as portas, a correria começa, é um assalto? Tão dando doce de São Cosme e Damião? O último é a mulher do padre? Eu não sei qual é a brincadeira, e não entendo bem as regras, parece que o primeiro que chegar na grande fila dos balcões da central ganha. Eu sei que ou quando eu chego o doce acabou ou eu sou a mulher do padre, porque assaltado pelo menos eu nunca fui (ainda).
Subo um novo lance de escadas e me deparo com aquela bela visão. Central do Brasil.. ui delícia!! Que tesão! É ali onde minutos mais tarde prostitutas dividem lugar com crianças vendedoras de Halls e Nescau Balls para tirar seu sustento. Filas enormes se formam, é impressionante como não existe aquela figura do café-com-leite, ou você entra na brincadeira e batalha ou não vai embora.
Trem para Bangu plataforma 4 linha D, para Campo Grande plataforma 3 linha C, Belford Roxo plataforma 13 linha F, não galera não é batalha naval não, é batalha terrestre mesmo, talvez por isso seja tão difícil e irritante, prefiria jogar isso em tabuleiro. Quantos participantes, antes fossem sós 2 como no jogo normal, mas são milhares!!! Filas, filas, filas, filas... e a mulher não para de falar no microfone, plataforma x linha 1000! Plataforma k linha 200! Cala a boca!! Porque não se firma um local certo pra todos os dias? Todo dia trem para Bangu sairá da plataforma 2 linha B. Olha que fácil!! Sr. Sério Cabral, sanciona essa lei, ao invés de colocar plaquinhas rosa em vagões só para mulheres!!!
Continuando. Pego enfim, depois de 40 minutos de correria e participar de um jogo em que não existe pênalti nem canastra fechada, rei ou rainha, talvez peões de guerra, sem as damas, o trem. Às vezes tem lugar, às vezes não. Às vezes tem ar condicionado, às vezes não. Que transporte maravilhoso! E gente, eu paguei 3,60 pela brincadeirinha, uma bagatela pelo serviço. Às vezes minha leitura ou meu sonzinho no mp3 é interrompido pela ladainha de alguns fanáticos religiosos, outras por ex-dependentes químicos angariando dinheiro pra manter as obras de assistência que os salvaram, ou ainda de mães cegas pedindo resto de comida de nossos pratos... enfim, depois de 54 minutos de – frigellzinha um real – ou – moça, choquito, batom – ou ainda coisas mais ousadas – cigarrinha do creu, lápis com calendário, tesoura que esquenta a mão, caneta de chocolate, tabuada de 1 real ou o delicioso amendoim agtal que eu não posso mais comer por causa do aparelho nos dentes, depois de tantas promoções e uma riqueza nos discursos improvisados que nos impulsionam a compra, depois de muita correria e empurra, empurra na estação de São Cristóvão ou na de Engenho de Dentro, depois de passar pelo Maraca, Mangueira, Engenhao, minha universidade Gama Filho, os centros de candomblé e umbanda de Oswaldo Cruz, minha Mocidade Independente de Padre Miguel... depois de cruzar toda a zona norte e de exatas 24 estações, chego em Bangu, meu lar doce lar na zona oeste do Rio, cansado e como vitorioso, afinal eu sempre chego vivo e certo de que amanhã vou brincar de novo com meus amigos desconhecidos que às vezes me perguntam as horas ou me dão um empurrão pra conseguir entrar no vagão do trem.

20 de junho de 2008


Campanha paradebate.blogspot.com: "PLANTE UMA ÁRVORE VOCÊ TAMBÉM E AJUDE O PLANETA TERRA A FILTRAR CO2"

15 de junho de 2008

POR QUÊ COTAS RACIAIS?



Abaixo segue uma espécie de pingue-pongue sobre as cotas raciais em universidades públicas.





Entrevistador: André Luiz Barros

Entrevistado: André Luiz Barros


Por que elas existem?
Pra disfarçar um problema de desigualdade social e fazer parte de um discurso de “esquerda” que “preza” pela igualdade das classes e uma melhor distribuição de renda.

Por que essa desigualdade ainda existe?
Porque diferentemente do que ocorreu na Inglaterra e EUA, no Brasil os negros após a abolição da escravatura não receberam qualquer aparato de estudos ou moradia digna, se criaram no morro e tiveram que viver em condições muitas vezes desumanas, sem sequer saneamento básico e qualquer tipo de educação (dever do estado e direito to cidadão – previsto na constituição federal).

Por que os negros foram marginalizados?

Devido a esse abandono por parte do poder público se criaram em periferias e morros que com o passar do tempo começaram a ser guiadas pelo poder paralelo do narcotráfico. Viveram num ambiente de drogas, armas e crimes.

Somente os negros vivem em periferias?
Obviamente que não. Mas em sua maioria. Afinal também existem brancos nas favelas.

Por que os negros têm menos postos de chefia, são uma minoria em universidades e têm menos representação em programas de televisão?
Porque o Brasil segundo o próprio IBGE, órgão federal, é constituído de uma maioria branca, pelo menos até 2010. Então matematicamente falando é provável que a maioria de qualquer cargo e de qualquer curso seja branca. Obviamente reconheço que faltam oportunidades aos negros, mas que é improvável cogitar-se 50% de brancos e 50% de negros nesse tipo de comparação, pra mim não significa nada além do que já se sabe que os brancos têm maior poder aquisitivo e melhores oportunidades.

Por que os brancos têm maior poder aquisitivo e melhores oportunidades?
Por que de fato têm acesso mais fácil à educação e às oportunidades. Mas pagam por isso.

Por que então eu sou contra as cotas, já que elas levariam educação mais acessível à população negra?
Porque simplesmente isso é inconstitucional, irracional e preconceituoso. Brancos e negros se diferenciam em uma única coisa: taxa de melanina na pele, ou seja, isso não significa nada. Além disso, se a população branca tem acesso a mais oportunidade é porque ela paga por isso, senão não haveria tantos colégios, escolas e universidades particulares espalhados pelo país. Se a educação pública fosse de qualidade a procura pelo ensino privado seria pequena.

E porque o ensino privado é melhor?
Simplesmente porque a remuneração dos professores é melhor.

E porque não se investe na educação infantil e no ensino fundamental público?
Porque o sistema de cotas é mais barato. É uma solução burra e temporária apenas pra disfarçar as desigualdades raciais que por incrível que pareça parecem não ter sofrido quase nenhuma alteração mesmo depois de decorridos 120 anos de a princesa Isabel ter assinado a Lei Áurea. Entretanto a solução ainda que com resultados em longo prazo mais conveniente fosse essa.

E as pessoas que já estudaram e não vão ter acesso a esse “melhor” ensino público?

É preciso haver mudanças, o Brasil mudou, e toda mudança gera novas mudanças e consecutivas repercussões. O que é melhor? Mudar agora e tentar ajeitar justamente a questão da desigualdade racial, ou deixar como está e disfarçar essa desigualdade com o sistema de cotas para que novas gerações sejam educadas com esse sistema público de ensino totalmente falido e insuficiente (que se pergunta se aprovação automática é uma solução interessante – “nem comento essa idéia”)? Daí eu questiono: Combater injustiça com injustiça é a melhor saída?

Por que então o governo insiste nesse debate idiota de cotas pra negros?
1º Porque o governo tem que manter sua linha de satisfazer os mais pobres (ainda que economicamente falando a elite banqueira tenha angariado recordes nos últimos 8 anos de governo).
2º Porque fica mais fácil politicamente falando, aceitar essa injustiça histórica e disfarçar toda essa desigualdade social e fingir que está sendo feito algo em prol dos negros (como se fosse uma retribuição, um favor – de fato pra mim educação é obrigação do Estado e deve ser provida pelo mesmo a todos).

Existem brancos pobres?
Sim existem.

E como eles ficam?

Com nenhuma cota, já que tiveram a “sorte” de nascerem brancos.

E os negros ricos?
AAaaa esses sim tem direito a cotas, porque sua afro-descendencia garante a eles esse “direito”.

E a classe média?
Essa é encarregada de prover o que o Estado não provém. De pagar impostos altíssimos para ser revertida a bolsas família, felicidade e cia.

E porque ao invés disso não são criadas oportunidades para a população pobre e em sua maioria negra?
Porque assim é mais fácil. Os investimentos externos precisam de juros altos para continuar sendo feitos, o presidente precisa de números e mais números pra ter o que falar em seus discursos, e esses investimentos nos deram um turbilhão de coisas, entre elas o Grau de Investimento, pela agência Standar´s and poor´s e uma taxa de criação de empregos restrita, já que para controlar a inflação a técnica do governo é estipular a taxa SELIC alta e consequentemente, menos poder de compra, menor produção industrial, menos empregos.

E porque nosso presidente é tido como um exemplo de chefe de estado?
Porque ele conseguiu provar que no Brasil, diploma é apenas um papel bobo de limpar bunda, que anos de estudo não obrigatoriamente levam a lugar nenhum e que salvo algumas exceções os que não estudam tem os melhores posições sociais, ex: agiota, dono de padaria, jogador de futebol, modelos da playboy e outros.

Mas, ainda existe preconceito racial em nosso país?
Sim, e muito. Entretanto preconceito racial mesmo, é o que existe nos EUA, por exemplo, onde existem colégios, meios de transporte, bairros específicos só para negros. Aqui existe sim, partem de brancos e frequentemente dos próprios negros.

E no Brasil? Onde podemos perceber esse preconceito racial?
Bom, existem vários processos judiciais em trâmite, de preconceito no trabalho, na rua.. Mas atualmente pra mim, o maior deles, realmente é o sistema de cotas em universidades públicas, afinal de contas, Hitler estaria certo a respeito do darwinismo social? ÓOObvio que não né! Mas esse sistema de cotas pra mim vai muito por essa regra, senão não privilegiaria brancos nem negros, afinal é de nosso inteiro conhecimento que não existe raça superior (ariana dita pelo ditador nazista). Só existe uma raça humana e uma subraça: homo sapiens, sapiens.

E os albinos, daltônicos, ruivos, hemofílicos, soro-positivos, como ficam? Afinal eles também são uma minoria.

Isso aí eu deixo pra você pensar e ver o quão injusto e absurdo é esse projeto de cotas em universidade públicas.

Enfim, prezemos pela igualdade dos direitos civis, independente de cor, sexo ou religião.