São 17 horas. Estou no Castelo, no centro do Rio de Janeiro, ali pertinho do Consulado dos EUA, da ABL (Academia Brasileira de Letras), do IBMEC, fonte de beleza desenhada em rostos perfeitos da classe média alta que estuda ali. Da janela de um prédio na Franklin Roosvelt, me despeço dos meus chefes, do Sr. Gazanneo e parto pruma jornada longa e cansativa, cortando o Rio de Janeiro até chegar a meu lar doce lar.
Desço os nove andares na certeza de chegar antes das 18h na estação de metrô da Cinelândia, essa hora entrar num metrô é algo tão insuportável que chega a ser lúdico e indigesto ao mesmo tempo. Passos largos, apressados, meus pés às vezes doem, e meu Deus.. como os sinais da Av Presidente Antonio Carlos demoram pra abrir, ver o sinal verde está para o tiro dado pela pistola em dias de corridas no Jóquei Clube, ambos os sinais remetem a mesma idéia, corrida. Não estou sozinho nessa jornada, comigo outras dezenas de engravatados e senhoras bem distintas de sainhas, digamos que bem saidinhas e terninhos encantadores seguem o mesmo trajeto, e parte deles, acreditem, farão a mesma aventura que eu. Um deleite único de quem precise de transporte público para se deslocar pelas ruas movimentadas do centro do Rio.
No caminho, deixo por despercebido senhoras velhinhas com fome que me abordam pedindo dinheiro, vira latas sem rumo que perambulam pelas calçadas, mendigos com fome e carrões importados e alguns empresários que circulam como transeuntes gastando aquele inglês fluente que me embabaca, será que o meu é assim também? Famintos e ricos me rodeando, camelôs, aqueles japinhas vendendo óculos falsificados, pretos, brancos, amarelos.. gente de todo tipo e toda cor.
Passo pela Praça Paris, ali pertinho da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal e chego finalmente a uma das entradas do metrô. 3,60 R$ é o valor da passagem para essa viagem incrível. Pego uma filinha básica, passo na catraca, agora eletrônica (mas ainda falha), desço as escadarias e fico na ânsia a espero do trem. Meu Deus.. parece que todo o Centro do Rio bateu o cartão na mesma hora e resolveu se encontrar no mesmo lugar, o que me acalma é saber que lá em cima nas ruas, o trânsito é pior. Quatro pessoas por metro quadrado, é quente, o ar condicionado nem sempre dá vazão, e ali na estação mesmo, vejo o quão diferente é a vida dos moradores da zona sul, enquanto entram 10 num vagão da linha 1 indo, sentido Glória, entram 100 no sentido Largo da Carioca, enfim.. aquele aperto continua, e algumas vezes pasmem quase que entro numa porta e saio pela outra do lado contrário, QUE EDUCAÇÃO!! QUE PRESSA!! Pra que isso? Nossa! No fundo entendo, quero chegar em casa tanto quanto eles e sinto na pele o quanto todo aquele processo é incomodo e incompreensível. Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, uffa! Central do Brasil.. quatro estações, cerca de sei lá, 10 minutos.. que segundos longos!! Só pode!
Abrem as portas, a correria começa, é um assalto? Tão dando doce de São Cosme e Damião? O último é a mulher do padre? Eu não sei qual é a brincadeira, e não entendo bem as regras, parece que o primeiro que chegar na grande fila dos balcões da central ganha. Eu sei que ou quando eu chego o doce acabou ou eu sou a mulher do padre, porque assaltado pelo menos eu nunca fui (ainda).
Subo um novo lance de escadas e me deparo com aquela bela visão. Central do Brasil.. ui delícia!! Que tesão! É ali onde minutos mais tarde prostitutas dividem lugar com crianças vendedoras de Halls e Nescau Balls para tirar seu sustento. Filas enormes se formam, é impressionante como não existe aquela figura do café-com-leite, ou você entra na brincadeira e batalha ou não vai embora.
Trem para Bangu plataforma 4 linha D, para Campo Grande plataforma 3 linha C, Belford Roxo plataforma 13 linha F, não galera não é batalha naval não, é batalha terrestre mesmo, talvez por isso seja tão difícil e irritante, prefiria jogar isso em tabuleiro. Quantos participantes, antes fossem sós 2 como no jogo normal, mas são milhares!!! Filas, filas, filas, filas... e a mulher não para de falar no microfone, plataforma x linha 1000! Plataforma k linha 200! Cala a boca!! Porque não se firma um local certo pra todos os dias? Todo dia trem para Bangu sairá da plataforma 2 linha B. Olha que fácil!! Sr. Sério Cabral, sanciona essa lei, ao invés de colocar plaquinhas rosa em vagões só para mulheres!!!
Continuando. Pego enfim, depois de 40 minutos de correria e participar de um jogo em que não existe pênalti nem canastra fechada, rei ou rainha, talvez peões de guerra, sem as damas, o trem. Às vezes tem lugar, às vezes não. Às vezes tem ar condicionado, às vezes não. Que transporte maravilhoso! E gente, eu paguei 3,60 pela brincadeirinha, uma bagatela pelo serviço. Às vezes minha leitura ou meu sonzinho no mp3 é interrompido pela ladainha de alguns fanáticos religiosos, outras por ex-dependentes químicos angariando dinheiro pra manter as obras de assistência que os salvaram, ou ainda de mães cegas pedindo resto de comida de nossos pratos... enfim, depois de 54 minutos de – frigellzinha um real – ou – moça, choquito, batom – ou ainda coisas mais ousadas – cigarrinha do creu, lápis com calendário, tesoura que esquenta a mão, caneta de chocolate, tabuada de 1 real ou o delicioso amendoim agtal que eu não posso mais comer por causa do aparelho nos dentes, depois de tantas promoções e uma riqueza nos discursos improvisados que nos impulsionam a compra, depois de muita correria e empurra, empurra na estação de São Cristóvão ou na de Engenho de Dentro, depois de passar pelo Maraca, Mangueira, Engenhao, minha universidade Gama Filho, os centros de candomblé e umbanda de Oswaldo Cruz, minha Mocidade Independente de Padre Miguel... depois de cruzar toda a zona norte e de exatas 24 estações, chego em Bangu, meu lar doce lar na zona oeste do Rio, cansado e como vitorioso, afinal eu sempre chego vivo e certo de que amanhã vou brincar de novo com meus amigos desconhecidos que às vezes me perguntam as horas ou me dão um empurrão pra conseguir entrar no vagão do trem.
Desço os nove andares na certeza de chegar antes das 18h na estação de metrô da Cinelândia, essa hora entrar num metrô é algo tão insuportável que chega a ser lúdico e indigesto ao mesmo tempo. Passos largos, apressados, meus pés às vezes doem, e meu Deus.. como os sinais da Av Presidente Antonio Carlos demoram pra abrir, ver o sinal verde está para o tiro dado pela pistola em dias de corridas no Jóquei Clube, ambos os sinais remetem a mesma idéia, corrida. Não estou sozinho nessa jornada, comigo outras dezenas de engravatados e senhoras bem distintas de sainhas, digamos que bem saidinhas e terninhos encantadores seguem o mesmo trajeto, e parte deles, acreditem, farão a mesma aventura que eu. Um deleite único de quem precise de transporte público para se deslocar pelas ruas movimentadas do centro do Rio.
No caminho, deixo por despercebido senhoras velhinhas com fome que me abordam pedindo dinheiro, vira latas sem rumo que perambulam pelas calçadas, mendigos com fome e carrões importados e alguns empresários que circulam como transeuntes gastando aquele inglês fluente que me embabaca, será que o meu é assim também? Famintos e ricos me rodeando, camelôs, aqueles japinhas vendendo óculos falsificados, pretos, brancos, amarelos.. gente de todo tipo e toda cor.
Passo pela Praça Paris, ali pertinho da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal e chego finalmente a uma das entradas do metrô. 3,60 R$ é o valor da passagem para essa viagem incrível. Pego uma filinha básica, passo na catraca, agora eletrônica (mas ainda falha), desço as escadarias e fico na ânsia a espero do trem. Meu Deus.. parece que todo o Centro do Rio bateu o cartão na mesma hora e resolveu se encontrar no mesmo lugar, o que me acalma é saber que lá em cima nas ruas, o trânsito é pior. Quatro pessoas por metro quadrado, é quente, o ar condicionado nem sempre dá vazão, e ali na estação mesmo, vejo o quão diferente é a vida dos moradores da zona sul, enquanto entram 10 num vagão da linha 1 indo, sentido Glória, entram 100 no sentido Largo da Carioca, enfim.. aquele aperto continua, e algumas vezes pasmem quase que entro numa porta e saio pela outra do lado contrário, QUE EDUCAÇÃO!! QUE PRESSA!! Pra que isso? Nossa! No fundo entendo, quero chegar em casa tanto quanto eles e sinto na pele o quanto todo aquele processo é incomodo e incompreensível. Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, uffa! Central do Brasil.. quatro estações, cerca de sei lá, 10 minutos.. que segundos longos!! Só pode!
Abrem as portas, a correria começa, é um assalto? Tão dando doce de São Cosme e Damião? O último é a mulher do padre? Eu não sei qual é a brincadeira, e não entendo bem as regras, parece que o primeiro que chegar na grande fila dos balcões da central ganha. Eu sei que ou quando eu chego o doce acabou ou eu sou a mulher do padre, porque assaltado pelo menos eu nunca fui (ainda).
Subo um novo lance de escadas e me deparo com aquela bela visão. Central do Brasil.. ui delícia!! Que tesão! É ali onde minutos mais tarde prostitutas dividem lugar com crianças vendedoras de Halls e Nescau Balls para tirar seu sustento. Filas enormes se formam, é impressionante como não existe aquela figura do café-com-leite, ou você entra na brincadeira e batalha ou não vai embora.
Trem para Bangu plataforma 4 linha D, para Campo Grande plataforma 3 linha C, Belford Roxo plataforma 13 linha F, não galera não é batalha naval não, é batalha terrestre mesmo, talvez por isso seja tão difícil e irritante, prefiria jogar isso em tabuleiro. Quantos participantes, antes fossem sós 2 como no jogo normal, mas são milhares!!! Filas, filas, filas, filas... e a mulher não para de falar no microfone, plataforma x linha 1000! Plataforma k linha 200! Cala a boca!! Porque não se firma um local certo pra todos os dias? Todo dia trem para Bangu sairá da plataforma 2 linha B. Olha que fácil!! Sr. Sério Cabral, sanciona essa lei, ao invés de colocar plaquinhas rosa em vagões só para mulheres!!!
Continuando. Pego enfim, depois de 40 minutos de correria e participar de um jogo em que não existe pênalti nem canastra fechada, rei ou rainha, talvez peões de guerra, sem as damas, o trem. Às vezes tem lugar, às vezes não. Às vezes tem ar condicionado, às vezes não. Que transporte maravilhoso! E gente, eu paguei 3,60 pela brincadeirinha, uma bagatela pelo serviço. Às vezes minha leitura ou meu sonzinho no mp3 é interrompido pela ladainha de alguns fanáticos religiosos, outras por ex-dependentes químicos angariando dinheiro pra manter as obras de assistência que os salvaram, ou ainda de mães cegas pedindo resto de comida de nossos pratos... enfim, depois de 54 minutos de – frigellzinha um real – ou – moça, choquito, batom – ou ainda coisas mais ousadas – cigarrinha do creu, lápis com calendário, tesoura que esquenta a mão, caneta de chocolate, tabuada de 1 real ou o delicioso amendoim agtal que eu não posso mais comer por causa do aparelho nos dentes, depois de tantas promoções e uma riqueza nos discursos improvisados que nos impulsionam a compra, depois de muita correria e empurra, empurra na estação de São Cristóvão ou na de Engenho de Dentro, depois de passar pelo Maraca, Mangueira, Engenhao, minha universidade Gama Filho, os centros de candomblé e umbanda de Oswaldo Cruz, minha Mocidade Independente de Padre Miguel... depois de cruzar toda a zona norte e de exatas 24 estações, chego em Bangu, meu lar doce lar na zona oeste do Rio, cansado e como vitorioso, afinal eu sempre chego vivo e certo de que amanhã vou brincar de novo com meus amigos desconhecidos que às vezes me perguntam as horas ou me dão um empurrão pra conseguir entrar no vagão do trem.
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