Dessa vez tudo ficou mais claro por mais evidente que essa situação possa ter chegado. Eu vivo numa cidade em guerra civil.
Acordei cedo depois de uma noite de sono pesado, interrompido apenas por algumas rajadas de balas. Arrumei-me e saí, alguns compromissos corriqueiros do dia-a-dia me aguardavam irrequietos. Tudo tranqüilo. O dia estava perfeito, temperatura agradável.
De repente, em uma das esquinas do meu bairro, cerca de 30 carros mais ou menos corriam lépidos e faceiros desfilando “segurança”. De quais carros estou falando? Dos carros azuizinhos e brancos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sim aquela honesta e eficiente. E o que todo aquele cortejo estatal representava? Isso era o que eu estava me perguntando naquela hora.
Atrás dos carros, um grande blindado. Sabe aqueles que recolhem o dinheiro do Banco Real, do Mc Donald´s.. então só que revestido com uma carapaça cinza, uma caveira do lado... não era qualquer um. Era um blindado imponente, rude e.. e... vulnerável, como qualquer outro veículo ou automotor que ouse combater o tráfico, exceto os tanques do exército. Com uma diferença: um auto-falante na parte superior, usado pra fazer ecoar pânico, pra combater o crime sabe. (Que solução inteligente!)
Em silêncio, seguiam em direção a uma das 23939840403349300 favelas do Rio de Janeiro. Um comboio armado e aparentemente hiper qualificado. A imprensa também os seguia. Arrepios... e a população assistia perplexa àquele desfile que mais cedo ou mais tarde iria acarretar em uns três minutos do RJTV anunciando algumas meias dúzias de mortes (sorte a nossa se forem do exército inimigo).
Respondam-me meus nobres: Todos aqueles homens, alguns quarentões, que mexem com a cabeça e fazem parte de sonhos eróticos de algumas mulheres mais danadinhas, estariam se organizando por um grande pique-estilingue com fuzis empinados pra fora dos carros, ou estariam indo à guerra?
Um exército de fardados e armados até os dentes cortavam as ruas do meu bairro e partiam em “defesa” da população. Motoristas de Kombi, “bem apessoados” aos gritos, anunciavam: última remessa de coletivos!!! Afinal não iam deixar suas vans clandestinas a mercê do tráfico, que incendeia qualquer objeto de quatro rodas que cruzar o conflito, para vingar a morte de um traficante.
Isso tudo era em plena manhã de uma quinta-feira qualquer, e cá entre nós, por mais que tiros, balas perdidas, e violência já façam parte de nossas rotinas, todo esse movimento ainda pegava de surpresa, frágeis senhoras que voltavam da feira, crianças arrumadas pra ir ao colégio, e EU, sim, eu também fiquei bem surpreso. Daí me questionei: estou numa guerra civil? Em que país estou? Vieram-me a tona grandes nomes da violência mundial: Kabul, Bagdá, Faixa de Gaza...não não não estava na segunda cidade mais populosa do Brasil, àquele país emergente que sempre cito em meus textos, na maravilhosa Rio de Janeiro, a cidade das bundas despeladas no carnaval e dos shows pirotécnicos de reveillon.
Mais tarde, à noite, como já esperava, vi no RJTV, minha coleguinha Leilane Neubarth, mencionar a incursãoem Senador Câmara , que me custou uma passagem “filantrópica”, digamos assim, à SuperVia, pois a circulação de trens havia sido interrompida no dia anterior por “questões de segurança pública” - anunciava uma das funcionárias da ferrovia por microfone.
Foi-se o tempo em que podia ficar tranqüilo na varanda da casa da minha avó brincando com meus amigos no portão e jogando conversa fora com meus primos. É, aquela manhã de quinta-feira me trouxe um ar nostálgico, dos tempos que eu podia ser criança, ser cidadão com segurança. Em que podia ficar até tarde brincando de pique pega na rua sem ter que me recolher com medo da violência, dos tempos em que polícia e ladrão era apenas uma brincadeira de rua. Minha avó já não se assusta mais com os tiros, e pasmem, ainda fica vendo os traçantes no céu estrelado, me revelou ela outro dia – podiam ser coloridos e em outros tons sem ser amarelo-fogo – brinquei com minha mãe. De madrugada por vezes acho que estou sonhando – será que sou militar e essa uma salva de tiros em meu enterro? Hoje é dia de São Jorge pra ter alvorada? Antes fosse apenas um pesadelo, o pior é perceber que os sons que ouço de noite são tiros sim, estão bem próximos, são de verdade, a única mentira é que o pique estilingue não é nenhum pique e sim uma guerra civil camuflada e que as balas perdidas não são tão perdidas assim, porque sempre acertam um alvo: o errado.
Acordei cedo depois de uma noite de sono pesado, interrompido apenas por algumas rajadas de balas. Arrumei-me e saí, alguns compromissos corriqueiros do dia-a-dia me aguardavam irrequietos. Tudo tranqüilo. O dia estava perfeito, temperatura agradável.
De repente, em uma das esquinas do meu bairro, cerca de 30 carros mais ou menos corriam lépidos e faceiros desfilando “segurança”. De quais carros estou falando? Dos carros azuizinhos e brancos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sim aquela honesta e eficiente. E o que todo aquele cortejo estatal representava? Isso era o que eu estava me perguntando naquela hora.
Atrás dos carros, um grande blindado. Sabe aqueles que recolhem o dinheiro do Banco Real, do Mc Donald´s.. então só que revestido com uma carapaça cinza, uma caveira do lado... não era qualquer um. Era um blindado imponente, rude e.. e... vulnerável, como qualquer outro veículo ou automotor que ouse combater o tráfico, exceto os tanques do exército. Com uma diferença: um auto-falante na parte superior, usado pra fazer ecoar pânico, pra combater o crime sabe. (Que solução inteligente!)
Em silêncio, seguiam em direção a uma das 23939840403349300 favelas do Rio de Janeiro. Um comboio armado e aparentemente hiper qualificado. A imprensa também os seguia. Arrepios... e a população assistia perplexa àquele desfile que mais cedo ou mais tarde iria acarretar em uns três minutos do RJTV anunciando algumas meias dúzias de mortes (sorte a nossa se forem do exército inimigo).
Respondam-me meus nobres: Todos aqueles homens, alguns quarentões, que mexem com a cabeça e fazem parte de sonhos eróticos de algumas mulheres mais danadinhas, estariam se organizando por um grande pique-estilingue com fuzis empinados pra fora dos carros, ou estariam indo à guerra?
Um exército de fardados e armados até os dentes cortavam as ruas do meu bairro e partiam em “defesa” da população. Motoristas de Kombi, “bem apessoados” aos gritos, anunciavam: última remessa de coletivos!!! Afinal não iam deixar suas vans clandestinas a mercê do tráfico, que incendeia qualquer objeto de quatro rodas que cruzar o conflito, para vingar a morte de um traficante.
Isso tudo era em plena manhã de uma quinta-feira qualquer, e cá entre nós, por mais que tiros, balas perdidas, e violência já façam parte de nossas rotinas, todo esse movimento ainda pegava de surpresa, frágeis senhoras que voltavam da feira, crianças arrumadas pra ir ao colégio, e EU, sim, eu também fiquei bem surpreso. Daí me questionei: estou numa guerra civil? Em que país estou? Vieram-me a tona grandes nomes da violência mundial: Kabul, Bagdá, Faixa de Gaza...não não não estava na segunda cidade mais populosa do Brasil, àquele país emergente que sempre cito em meus textos, na maravilhosa Rio de Janeiro, a cidade das bundas despeladas no carnaval e dos shows pirotécnicos de reveillon.
Mais tarde, à noite, como já esperava, vi no RJTV, minha coleguinha Leilane Neubarth, mencionar a incursão
Foi-se o tempo em que podia ficar tranqüilo na varanda da casa da minha avó brincando com meus amigos no portão e jogando conversa fora com meus primos. É, aquela manhã de quinta-feira me trouxe um ar nostálgico, dos tempos que eu podia ser criança, ser cidadão com segurança. Em que podia ficar até tarde brincando de pique pega na rua sem ter que me recolher com medo da violência, dos tempos em que polícia e ladrão era apenas uma brincadeira de rua. Minha avó já não se assusta mais com os tiros, e pasmem, ainda fica vendo os traçantes no céu estrelado, me revelou ela outro dia – podiam ser coloridos e em outros tons sem ser amarelo-fogo – brinquei com minha mãe. De madrugada por vezes acho que estou sonhando – será que sou militar e essa uma salva de tiros em meu enterro? Hoje é dia de São Jorge pra ter alvorada? Antes fosse apenas um pesadelo, o pior é perceber que os sons que ouço de noite são tiros sim, estão bem próximos, são de verdade, a única mentira é que o pique estilingue não é nenhum pique e sim uma guerra civil camuflada e que as balas perdidas não são tão perdidas assim, porque sempre acertam um alvo: o errado.
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