Se Maquiavel tivesse vivo hoje talvez ele concordasse comigo. Há algum tempo tenho reparado que meu discurso resolveu adotar uma palavra um tanto quanto neutra e passiva, o ENFIM. De uns tempos pra cá, o que era apenas um vício de linguagem se tornou numa espécie de fadiga oral, quando acho que não vale a pena exteriorizar algo, ou quando viajo demais na maionese, como se costumar dizer por ai, eu trato logo de impor um final inconcluído no desenrolar da conversa.
Os estudiosos da contemporaneidade tomam essa novo pedaço de tempo exatamente como aquele em que se extinguiu as grandes narrativas, aquele pós o fim da história, aquele em que se erradicaram as utopias. Nosso amiguinho “Enfim” acho que tem sido uma grande prova da contemporaneidade, e tão logo tive esse insight, resolvi escrevê-lo. O “Em suma” ficou ultrapassado, o tempo corrido dos dias de hoje, não nos dá brecha para maiores explicações, o “Enfim” reduz pensamentos enormes e pelo menos por mim é usado demasiadamente em situações em que ocorre a desistência por parte do locutor de emitir uma mensagem não compreendida por incapacidade, ignorância ou pela extrema passividade, da parte to receptor.
Em tempos de abreviações e abreviaturas, o “Enfim” parece ter sido a chave da população que luta por meias palavras, meias verdades, meias qualquer coisas sem buscar nada. Uma coisa é certa, não se há esperança num mundo melhor ou em grandes mudanças através das frases de “enfim”. Ao contrário do significado óbvio de que essa palavra possa ter, o de não acrescentar mais nada ao texto, eu ainda acho que ela pode ser cruel ou indiferente, eliminando a possibilidade de uma série de interpretações da continuação de um discurso e concedendo o direito do livre-pensamento ao ouvinte ou leitor.
A famosa frase atribuída ao velho Maquiavel, “Os fins justificam os meios”, faz parte de uma sacada brilhante do renascentista. Ainda que alguns a tomem como uma farsa, algo forjado e atribuído ao autor, ainda sim vejo pertinência no seu sentido. Definitivamente hoje, acho que os enfins não justificam os meios, e aliás esse é o propósito dos “enfins”, dar direito ao receptor de concluir o pensamento da maneira que melhor lhe convier. A utopia, o desejo de convencer alguém de algo, definitivamente foram extirpados da mente daqueles que insistem em utilizar esse vocábulo em seus discursos. Se isso é pobreza de espírito, falta de coesão do pensamento ou pura preguiça de persuadir a cabeça do outro eu não sei, só sei que às vezes o “Enfim” me cai muito bem.
2 comentários:
muito bom... adoro tudo q vc escreve!!
By luana
Detesto seu "enfim". Me irrita muito mesmo. Me irrita tanto que acabei pegando esse vício de falar "enfim" também. rsrs
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