5 de junho de 2009

Orla da Praia de Copacabana no início do século XX, Rio Antigo

Para Sofia M.,

[...] saudades daqueles seus doces lábios molhados, que me calavam aos beijos e sussurravam em meu ouvido o que eu queria ouvir. Não sabia que iria ter sido a última vez. A noite linda pontilhada de estrelas, o mar sereno de Copacabana. As crianças brincando no calçadão pedindo irrequietas com um saco de pipocas na mão, um balão de gás em formato de chupeta colorida. O escurecer da tarde quente e aconchegante nos teus braços, envolvido no carinho, olhando no fundo daquele lindo par de olhos amendoados. Seu rosto do lado do meu, seu abraço apertado contra o meu peito. Faria tudo pra senti-la outra vez, entre minhas pernas, sentir seus beijos, andar de mãos dadas pela orla. Ir as alturas numa roda gigante, comer algodão doce, viver a criança apaixonada que existe dentro da gente, sentir aquele amor adolescente cego e cheio de devaneios. Queria dar-lhe um último adeus, breve, sereno, um último beijo apaixonado de quem te amou de verdade. Pisar descalço na areia da praia, desenhar nosso nome com o graveto na terra molhada, correr ao encontro da felicidade contigo. Se soubesse que aquela seria a última vez, talvez teria sido ainda mais inesquecível. Teria te dado o mais saboroso dos beijos com gostinho de maça do amor, o mais afetuoso dos abraços. Foi perfeito saber que você veio de longe pra me ver, se aventurou pelas ruas da cidade, perdida, insólita numa tarde do verão carioca, ansiosa pra cair no meu peito, me dar um selinho e dizer um “oi meu amor”. Ficar num banquinho na orla, feliz ao seu lado, e ouvir de uma senhorinha que passava naquela hora, “que o amor é lindo”, e era mesmo. Eu sei que você sentia algo, eu ainda sinto. Ontem, mais uma vez me dei conta, quando perdi o sono de noite e fiquei rodando de um lado pro outro da cama me dando conta que dessa vez foi pra sempre, chegou ao fim. Te amei como nunca amei ninguém e isso ficará eternizado naquela linda tarde de fevereiro, eu, vc e as gaivotas da Avenida Atlântica...

Até qualquer dia desses..



(O Diário da Manhã, Rio de Janeiro - 5 de junho de 1909)

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